22/03/2009

Só podia...

Lá estava Ele... Só. No fundo era assim que se sentia sempre. Só. Tudo porque um dia teve tudo. Mas nunca prestou muita atenção. Agora era diferente. A falta de algumas coisas fizeram-no recuar no tempo. E lembrar tudo o que teve. Porque agora não tinha nada. Tinha. A dor, a solidão e ele próprio. Ainda se tinha a ele próprio. E até gostava daquilo que tinha. Embora isso fosse pouco, muito pouco... Que fazer quando ja não se pode voltar atrás e recuperar aquilo que ficou preso lá... não se sabe muito bem onde? Era nisto que Ele pensava. Já estava naquilo há algum tempo quando a chuva começou de cair. As gotas molhavam-lhe o rosto, gelado e cansado. Sentiu-as. Afinal ainda sentia. Apesar de serem simples gotas de chuva. E ali ficou. De olhar perdido, a olhar o horizonte. A rever cada imagem, cada momento daquilo que tinha sido a sua vida. Uma tarefa mais árdua o aguardava. Imaginar a partir dali. Até porque tinha sido ele a escolher o caminho que agora se encontrava prestes a iniciar. Mas antes mesmo de começar a segui-lo, uma espécie de dúvida enchia-lhe a alma a o pensamento. Não era bem dúvida. Porque ele até tinha certezas... eram raízes que ainda estavam coladas lá. Lá mesmo atrás. Raízes que o prendiam áqueles momentos.... raízes que nem Ele sabia que estavam lá. Mas afinal, estavam. E não eram assim tão poucas. Ele sabia que era por ali que queria ir. Mas as raízes não deixavam. A culpa não era dele, está visto. A culpa era toda das raízes. Só podia.

Quando não consegues exteriorizar aquilo que sentes verdadeiramente, sofres em silêncio.