03/12/2008

Só um copo...

«É de noite e o Amor está com dúvidas se deve existir. Acabou de entrar abraçado a si mesmo e sentou-se quase ao meu lado, deixando apenas um banco vazio entre nós, no balcão onde bebo um uísque sem gelo. Ainda não foi atendido mas, porque já o vi pelo canto do olho, percebi que se quer enfrascar. Está ansioso. A mim apetece-me mudar de banco e enfrascar-me com ele, mas na verdade já não sei se sou eu que estou a beber uísque ou se é o uísque que me está a beber a mim.
Levanto o copo e vejo nele o meu reflexo. Certifico-me que eu, pelo menos, existo. Uma vez disse a mim mesmo que se o gajo se tornasse a sentar ao meu lado eu levantava-me e saía imediatamente, mas agora, que ele está ali, só me apetece oferecer-lhe um copo.
Ele não se lembra de mim mas eu lembro-me dele. Uma vez passámos uma noite inteira a beber e ficámos amigos. Eu disse-lhe que gostava dele porque com ele os dias maus acabavam bem. Bastava combinar com ele um café ao fim da noite e tudo melhorava. Ele concordou e abraçou-me enquanto me passava uma garrafa quase no fim, mas depois desapareceu e nunca mais voltou.
Tem uma grande lata, o gajo, para se sentar agora mesmo ao meu lado no balcão e nem sequer me cumprimentar. De certeza que está a fingir que não me conhece. Não é possível que não me conheça. E se eu lhe oferecer só um copo? »
Continuo a não perceber o que prende as pessoas ao ecran, até para lá da exaustão... Tem de haver qualquer coisa.. forte...